ECONOMIA

Idiossincrasia político-partidária em São Tomé e Príncipe

Idiossincrasia político-partidária em São Tomé e Príncipe

A idiossincrasia politico-partidária refere-se ao conjunto de caraterísticas próprias, peculiares e distintivas do funcionamento dos partidos políticos dentro de um determinado país, sociedade ou contexto histórico.

Trata-se de um conceito que ajuda a compreender como os partidos se estruturam, se comportam e se relacionam com o poder, com os cidadãos e entre si, de forma que nem sempre segue os modelos ou padrões teóricos universais da ciência.

Em termos simples:

É o “jeito próprio” que os partidos de um país têm de fazer política: as suas “manias”, os seus hábitos,os seus vícios, as suas virtudes e os seus desvios, que os tornam únicos no contexto específico em que atuam.

A IDIOSSINCRASIA POLITICO-PARTIDÁRIA EM SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE

A idiossincrasia dos partidos políticos em São Tomé e Príncipe é marcada por caraterísticas muito próprias, que os distinguem do padrão institucional-partidário convencional, revelando fragilidades estruturais, práticas clientelistas e uma relação frágil com os ideais programáticos.

  1. Partidarismo Personalista e Fragmentado

Os partidos políticos em São Tomé e Príncipe são, em grande medida, construções centradas em figuras políticas e não em doutrinas ideológicas.

A sua génese está, muitas vezes, mais ligada ao carisma ou à ambição de determinadas figuras do que a visões estruturadas sobre o futuro do país. Isto tem levado à fragmentação do campo partidário, com surgimento constante de novas formações  políticas, muitas vezes como resultado de cisões pessoais ou disputas internas de poder.

  • Fraca Ancoragem Programática

Há uma notória ausência de programas ideológicos consolidados.

A maior parte dos partidos apresenta plataformas eleitorais que pouco diferem entre si, sem estratégias concretas de médio e longo prazo. Esta  debilidade programática contribui para a baixa fidelização do eleitorado e para o fenómeno do “voto flutuante”, em que o voto é frequentemente motivado por interesses imediatos, afetos pessoais ou redes de influência local.

  • Clientelismo e Lógica de Poder Informal

A política partidária é profundamente marcada por práticas clientelistas. O acesso  a bens e serviços públicos, oportunidades de emprego ou pequenas ajudas financeiras são frequentemente instrumentalizados como moeda de troca por apoio político.

Essa lógica distorce a função representativa dos partidos políticos e contribui para a perpetuação de elites políticas desprovidas de visão transformadora.

  • Partidos do Governo e Partidos de Protesto

Outro traço da idiossincrasia politico-partidária em São Tomé e Príncipe é a tendência dos partidos em alternar entre o papel de “partido de governo” e “partido de protesto”. Muitos partidos, ao saírem do poder, rapidamente perdem  coesão interna e identidade política, passando a operar apenas como instrumentos de crítica, muitas vezes sem oferecer propostas alternativas sustentáveis.

  • Instrumentalização das Instituições do Estado

Ao invés de fortalecerem o Estado, os partidos têm-se valido das instituições públicas como extensões das suas máquinas políticas.

A politização da administração pública, do sistema  judicial, da comunicação estatal  e das empresas públicas  é sintoma de uma concepção  patrimonialista do poder, onde o Estado é visto como espólio a ser partilhado entre os  vencedores das eleições.

  • Déficit de Participação Cidadã e Juventude Desmobilizada

 As Juventudes partidárias têm sido, regra geral, espaços de reprodução do status quo, mais preocupadas em garantir ascensão pessoal do que em formular agendas progressistas.

A ausência de canais efetivos de participação para jovens e mulheres agrava a distância entre partidos e sociedade civil, fragilizando o tecido democrático.

Considerações Finais

A idiossincrasia dos partidos políticos em São Tomé e Príncipe é simultaneamente um reflexo e um motor  das debilidades da democracia no país.

Reformar o sistema partidário exige muito mais do que a simples proliferação de siglas: requer a construção de partidos como escolas de cidadania, estruturas programáticas coerentes, comprometidas com o bem comum, com a ética pública e com o desenvolvimento nacional.

Urge um processo de reforma politico-partidária,sustentado por uma nova geração de líderes com visão, coragem  e compromisso com os princípios democráticos e com os interesses superiores da Nação.

São Tomé 25 de Agosto de 2025.

Manuel Salvador dos Ramos

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