A idiossincrasia politico-partidária refere-se ao conjunto de caraterísticas próprias, peculiares e distintivas do funcionamento dos partidos políticos dentro de um determinado país, sociedade ou contexto histórico.
Trata-se de um conceito que ajuda a compreender como os partidos se estruturam, se comportam e se relacionam com o poder, com os cidadãos e entre si, de forma que nem sempre segue os modelos ou padrões teóricos universais da ciência.
Em termos simples:
É o “jeito próprio” que os partidos de um país têm de fazer política: as suas “manias”, os seus hábitos,os seus vícios, as suas virtudes e os seus desvios, que os tornam únicos no contexto específico em que atuam.
A IDIOSSINCRASIA POLITICO-PARTIDÁRIA EM SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE
A idiossincrasia dos partidos políticos em São Tomé e Príncipe é marcada por caraterísticas muito próprias, que os distinguem do padrão institucional-partidário convencional, revelando fragilidades estruturais, práticas clientelistas e uma relação frágil com os ideais programáticos.
Partidarismo Personalista e Fragmentado
Os partidos políticos em São Tomé e Príncipe são, em grande medida, construções centradas em figuras políticas e não em doutrinas ideológicas.
A sua génese está, muitas vezes, mais ligada ao carisma ou à ambição de determinadas figuras do que a visões estruturadas sobre o futuro do país. Isto tem levado à fragmentação do campo partidário, com surgimento constante de novas formações políticas, muitas vezes como resultado de cisões pessoais ou disputas internas de poder.
Fraca Ancoragem Programática
Há uma notória ausência de programas ideológicos consolidados.
A maior parte dos partidos apresenta plataformas eleitorais que pouco diferem entre si, sem estratégias concretas de médio e longo prazo. Esta debilidade programática contribui para a baixa fidelização do eleitorado e para o fenómeno do “voto flutuante”, em que o voto é frequentemente motivado por interesses imediatos, afetos pessoais ou redes de influência local.
Clientelismo e Lógica de Poder Informal
A política partidária é profundamente marcada por práticas clientelistas. O acesso a bens e serviços públicos, oportunidades de emprego ou pequenas ajudas financeiras são frequentemente instrumentalizados como moeda de troca por apoio político.
Essa lógica distorce a função representativa dos partidos políticos e contribui para a perpetuação de elites políticas desprovidas de visão transformadora.
Partidos do Governo e Partidos de Protesto
Outro traço da idiossincrasia politico-partidária em São Tomé e Príncipe é a tendência dos partidos em alternar entre o papel de “partido de governo” e “partido de protesto”. Muitos partidos, ao saírem do poder, rapidamente perdem coesão interna e identidade política, passando a operar apenas como instrumentos de crítica, muitas vezes sem oferecer propostas alternativas sustentáveis.
Instrumentalização das Instituições do Estado
Ao invés de fortalecerem o Estado, os partidos têm-se valido das instituições públicas como extensões das suas máquinas políticas.
A politização da administração pública, do sistema judicial, da comunicação estatal e das empresas públicas é sintoma de uma concepção patrimonialista do poder, onde o Estado é visto como espólio a ser partilhado entre os vencedores das eleições.
Déficit de Participação Cidadã e Juventude Desmobilizada
As Juventudes partidárias têm sido, regra geral, espaços de reprodução do status quo, mais preocupadas em garantir ascensão pessoal do que em formular agendas progressistas.
A ausência de canais efetivos de participação para jovens e mulheres agrava a distância entre partidos e sociedade civil, fragilizando o tecido democrático.
Considerações Finais
A idiossincrasia dos partidos políticos em São Tomé e Príncipe é simultaneamente um reflexo e um motor das debilidades da democracia no país.
Reformar o sistema partidário exige muito mais do que a simples proliferação de siglas: requer a construção de partidos como escolas de cidadania, estruturas programáticas coerentes, comprometidas com o bem comum, com a ética pública e com o desenvolvimento nacional.
Urge um processo de reforma politico-partidária,sustentado por uma nova geração de líderes com visão, coragem e compromisso com os princípios democráticos e com os interesses superiores da Nação.
São Tomé 25 de Agosto de 2025.
Manuel Salvador dos Ramos
